segunda-feira, 8 de julho de 2019

Amo-te

AMO-TE porque o desejo de ti era mais forte do que qualquer felicidade. Sei agora, a vida
não é bastante grande para manter unido tudo aquilo que o desejo consegue imaginar.
Não tentei deter-me.
Nem deter-te.
E rebentou de repente
um ruído calado. Havia cacos
de um monólogo que cortava como lâminas.
Depois, por entre caminhos que não percebo bem
por entre palavras por dizer
por entre beijos na pele
daquilo que és
por entre música de paz
cheguei aqui, na vontade
de ter mil noites
num lugar que me curaria.
Mas curar é uma palavra demasiado pequena, e simples, para o que aconteceu: despirmo-nos de nós próprios.
Despirmo-nos de tudo.
Como se não houvesse destroços alguns à frente.

Poema de Ricardo Gomes